sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Gaievski retorna ao presídio sem ser interrogado



O ex-assessor da Casa Civil Eduardo Gaievski retornou nesta quinta-feira a Realeza (PR), a 540 quilômetros de Curitiba, para participar da primeira audiência de instrução e julgamento do processo onde é acusado da prática de quase 40 crimes envolvendo estupro de vulnerável (quando a vitima é menor de 14 anos), estupro qualificado, assédio sexual, assédio sexual qualificado e delito de responsabilidade de prefeito municipal.

Nomeado pela ministra Glesi Hoffmann em janeiro, ele foi preso em agosto em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai, no final de agosto, após a decretação de prisão preventiva. Adolescentes relataram ao Ministério Público que recebiam entre R$ 150 e R$ 200 para sair com o ex-assessor. Uma das vitimas afirmou em depoimento que teve que sair três vezes com o ex-prefeito para conseguir um emprego na prefeitura de Realeza.


Algemado, com cabelos raspados e visivelmente abatido, Gaiveski chegou a Realeza às 13h no interior de um camburão do sistema penitenciário. A população não teve acesso ao local. A Polícia Militar montou um forte esquema de segurança e interditou a quadra onde está localizado o fórum.

O ex-assessor da Casa Civil permaneceu isolado em uma cela do fórum durante o período em que esteve na cidade, sendo reconduzido à penitenciária estadual de Francisco Beltrão no final da tarde. Devido ao elevado número de depoentes – 12 testemunhas de defesa e 20 testemunhas de acusação – , não foi possível a realização do interrogatório do ex-assessor.

De acordo com os procedimentos da Justiça, nesta fase do processo o acusado é interrogado ao final da instrução criminal, após os depoimentos de todas as testemunhas arroladas e a apresentação de provas. O trâmite permite que o acusado exerça seu direito de defesa, podendo contrapor todas as provas colhidas nas investigações. Não está definido se Gaievski voltará na sexta-feira para Realeza ou se uma nova data será marcada para seu interrogatório. A audiência iniciada às 15h desta quinta-feira deve se estender até a madrugada de sexta-feira.

Na última vez em que esteve na cidade, antes da prisão, o ex-assessor da Casa Civil estava em plena ascensão na política. Após governar o município em dois mandatos consecutivos, entre janeiro de 2005 a dezembro de 2012, ele trabalhava no quarto andar do Palácio do Planalto como homem de confiança da ministra Gleisi Hoffmann, nomeado como assessor especial em janeiro deste ano. Era apontado como referência em gestão municipal e elogiado com grande articulador do PT no Paraná. Seu nome encabeçava a lista dos futuros coordenadores da provável campanha da ministra Gleisi ao governo do Estado no próximo ano. Em Realeza e região “ele mandava e desmandava. Era o homem do governo federal”, afirma um vereador que prefere não ter seu nome revelado.

Na cidade que governou até pouco tempo, o ex-prefeito não teve oportunidade de encontrar pessoas próximas. Um dos filhos, André Willian Gaievski, 19 anos, está preso. Os irmãos, Edmundo e Francisco Gaievski, com prisões preventivas decretadas, estão foragidos. O ex-secretário municipal de Administração de Realeza, Fernandes da Silva Borges, amigo da família, também está preso na cadeia local. O grupo é acusado de intimidação de testemunhas, formação de quadrilha e de dar ou oferecer dinheiro para prestar falso testemunho.

O filho do ex-assessor da Casa Civil e o ex-secretário municipal foram presos em companhia de testemunhas de acusação que receberiam R$ 1 mil para modificar o depoimento. Os irmãos também teriam intimidado testemunhas.

Poder e dinheiro

O advogado Natalício Farias, responsável pela defesa das vítimas, disse em entrevista ao Terra que está preocupado com os depoimentos que estão sendo apresentados hoje. Segundo ele, algumas das vítimas vivem em situação de miséria absoluta e se sentem ameaçadas com o poder de Gaiveski. “Todo mundo tem medo dele e a gente sobre os depoimentos. Elas vão ter que falar e confirmar. Vai ser difícil”, afirmou.

Farias revelou que parentes de meninas, supostamente vítimas de Gaiveski, foram demitidos recentemente da prefeitura. O advogado diz que as testemunhas que acompanhavam o filho de Gaievski e o secretário de Administração no momento da prisão estão entre os demitidos. “Eles procuraram elas, ofereceram R$ 1 mil. Mas não era só. Eles pagariam também um salário para elas enquanto o Gaiveski estivesse na cadeia e no final mais um abono”, denunciou. Farias levantou dúvidas sobre a origem de valores que estariam sendo oferecidos para testemunhas. “Não sei de onde vem, mas é muito dinheiro”, disse ele.

Empregos na prefeitura

Desde 2010, Gaievski era monitorado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por denúncias de exploração sexual de menores de 18 anos. Gravações interceptadas pelo Gaeco revelaram conversas em que o ex-prefeito marcava encontros com garotas menores de 14 anos, oferecendo dinheiro. Para adolescentes entre 14 a 18 anos, o ex-assessor ofertava empregos a elas ou a familiares na prefeitura da cidade.

O processo contra Gaievski tramita sob sigilo na Justiça. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público em 2010.

Luiz Fernando Cerni/Portal Terra